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sexta-feira, setembro 24, 2004

Reminiscências pessoais (5)

1995 até hoje
O interessante com o passar dos anos é que o pessoal e o profissional começam a se misturar cada vez mais. O fato de você ter uma empresa própria, trabalhar como profissional liberal , “por conta” como se diz no popular, implica em trazer a família para mais perto dos problemas de trabalho. A verdadeira montanha russa que é atuar neste mercado altamente competitivo, numa economia altamente instável como a brasileira, onde não se consegue fazer um planejamento financeiro da empresa que enxergue horizontes além de seis meses faz com que você procure conscientizar a família (que depende de você), destas incertezas. É difícil conscientizar um jovem filho, criado no melhor ambiente pequeno burguês, estudando em boas (e caras) escolas particulares que o mundo que era bom passa a ser mau.E que a relativa estabilidade financeira familiar que perdurou por mais de 15 anos, passa a ser uma relativa "instabilidade" financeira. Fazer as pessoas aceitarem esta mudança de ponto de vista acaba gerando atritos e inconformismos. Daí vêm os palpites, cobranças, questionamentos.

Aliado a isto, vêm as escolhas erradas de parceiros e colaboradores profissionais baseadas apenas no sentimento e não no pragmatismo, um grave defeito meu, dizem alguns amigos e familiares (sou teimoso, até hoje não acho isto). Mas estamos aqui nesta vida para aprender com ela e adquirir experiências sejam elas boas ou más.

Os seus erros e acertos profissionais acabam refletindo-se quase que imediatamente na sua vida pessoal, principalmente no aspecto financeiro e o sábio ditado “em casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão” acaba se confirmando.

O fato é que como tudo passa nesta vida, os últimos quatro anos, com o consequente amadurecimento pessoal e familiar advindos dos altos e baixos pecuniários e emocionais anteriores constituem-se até agora nos melhores anos desta vida.

Não que os altos e baixos pecuniários tenham acabado. Pelo contrário. As fases baixas são mais longas que as fases altas. A soma não dá para dizer que o futuro é cor-de-rosa.Hoje está mais para vermelho (risos incontidos). Eu já há um bom tempo me conscientizei que tenho que trabalhar para sobreviver pelo menos mais dez anos do que eu pensava há dez anos atrás. Trabalhar por diletantismo, por hobby? Parafraseando Fernando Gabeira, que que é isso, companheiro?

A família, em vez de diminuir, aumentou. Ganhei um genro e dois cachorros. Até o novo casal se estabilizar tem um tempo. Devemos dar apoio. E os cachorros devem viver mais uns dez anos pelo menos e custa caro manter a conta do pet shop e do veterinário.

Enfim, chegamos ao presente. O melhor de tudo isso que contei até agora foi constatar que o meu bom humor não mudou.A minha compulsão de ajudar as pessoas também. O humor é mais cáustico porém continua bom humor. Tenho hoje uma visão mais humanista do que cartesiana do mundo e do país em que vivemos. Porisso, tomei a iniciativa de participar e entender melhor os aspectos sociais e políticos que tanto influem em nossas vidas pessoais e profissionais. Assim o farei, sem um engajamento profundo mas sim como contribuição.

Dizem que sou bom contador de “causos” e tentarei daqui por diante justificar esta fama. Meus futuros posts serão somente “causos”. Sem me ater à linha do tempo. Espero poder entreter os leitores deste blog. Mas se não conseguir, paciência. Continuarão a ser registros que considero importantes para mim.
Até o próximo “causo”

quarta-feira, setembro 15, 2004

Reminiscências Profissionais(4)

1995/1996
Vôo solo

Pela segunda vez na vida profissional, parti para um vôo solo. Diferentemente da primeira vez, onde tínhamos uma recessão braba, dentro da nova experiência do Plano Real, país em retomada de crescimento, globalização em curso, 10 anos mais velho, bem mais experiente no trato comercial e gerencial. A idéia acalentada já há um ano, era aproveitar a onda, com uma lista de contatos comerciais bem ampla. Fundei minha empresa em associação com um colega de faculdade também ex-colega da minha ex-empregadora, doravante chamada de “viúva”. Naturalmente, este primeiro ano foi de resultado “quase zero” com algumas consultorias aqui e ali. Consegui para o meu colega uma consultoria como terceirizado na “viúva”, no projeto do túnel Jânio Quadros. Quando “alguéns et caterva” lá na “viúva” souberam que eu de alguma forma estava ligado a ele, tentaram cancelar o contrato e chegaram a falar que o motivo era que eu seria “persona non grata” na empresa. Quanta baixaria!!! Realmente, a "viúva" não era mais a mesma. Eu havia juntado um pequeno “pé-de-meia” que serviu de capital de giro. Em 1996, o primeiro grande contrato com uma multinacional, conseguido através de amigos que lá haviam trabalhado. Amigos estes que depois viriam a ser “associados”. Neste mesmo ano, através de meus contatos, consegui um grande contrato com uma multinacional francesa “roubando” este contrato da “viúva”. Este cliente permaneceu conosco até 2002 quando saiu do Brasil por conta das incertezas econômicas de nosso país.

A experiência como empresário se comparada à de empregado é muito mais rica. Se por um lado, como empregado, você tem uma certa estabilidade, direitos garantidos, a posição de executivo exige dedicação além da conta. Saí da “viúva” com 3 férias vencidas, ou seja, 3 anos sem aquele tempinho para relaxar e se dedicar a você mesmo. A jornada de trabalho era em média de 11 horas por dia. Eu na minha posição não tinha a obrigatoriedade de horário fixo, rígido mas acabava sempre me dedicando horas a mais, nunca a menos. Como empresário, você não tem hora, não tem sábado, domingo, feriado, FGTS, décimo terceiro, o seu sucesso depende de você e do incentivo que você dá aos seus colaboradores, a instabilidade é constante, depende dos humores do mercado. A sua capacidade criativa é altamente incentivada. É muito mais desafiante.
É como eu digo: Você vive entre momentos de profunda euforia e profunda depressão.
Mas quando você se programa, pode muito bem fazer um “day-off”.Aquela sensação gostosa de cabular aula sem dar satisfações a ninguém. Se a grana dá e o cliente deixa, você fecha o “buteco” por 15 dias e vai viajar. Se o cliente é mau cliente, você pode mandá-lo passear. Você pode até se dar ao luxo de fazer um blog e postar reminiscências como agora estou fazendo em plena quarta-feira, às 11:25 da manhã sem ter um pentelho tentando policiar o que você está fazendo.

terça-feira, setembro 14, 2004

Reminiscências Pessoais (4)

1989/1994
Re-estabelecido em São Paulo, novos desafios profissionais( já vistos no post anterior). Aí comecei a sentir na pele o que é a competição dentro de uma grande empresa.Em Salvador, pela distância da matriz, estava imune a certas práticas perversas costumeiras no ambiente executivo.Em São Paulo, ciumeiras, disputas mesquinhas, falta de coleguismo, falsidades, a terra selvagem. Não era muito minha praia. Mas temos que ir em frente, administrar. Em 1990,1991 e 1992, fui considerado um dos melhores executivos da empresa, com direito a prêmio, tapinha nas costas e tudo. No início de 1995, fui execrado como incompetente e demitido de forma( a meu ver) indigna e humilhante depois de 20 anos de bons serviços prestados. Em nome da disputa pelo poder. Eu era da turma que perdeu a disputa. O pior é que estava enxergando o processo e não agia. Isto afetou sobremaneira a vida pessoal naquele período. Stress, hipocondria, altas irritações. Perda da qualidade pessoal de vida. Mas não me afetou no amor próprio. Como ser humano, muita gente ficou no meu caderninho negro. Acham que não? Um dia dou nomes aos bois.

Reminiscências Profissionais(3)

Mais Oscar Niemeyer y otras cositas – 1990 a 1992

Foram anos profícuos, apesar do confisco do Collor. O Memorial me deu um certo prestígio na empresa. Junto com Oscar, fizemos a partir daí, o Sambódromo de São Paulo, batizado de Pólo de Arte e Cultura Grande Otelo, o Centro Cultural de Osasco ( que não saiu do papel) , O Teatro Estadual de Araras (apelidado de teatro da sogra do Quércia) e o Parlamento Latino-Americano dentro do Memorial. Teve também o Monumento "Tortura Nunca Mais" em Volta Redonda, que foi literalmente explodido depois de pronto. Acho que não durou um dia...

1992-1994
Com a posse de Itamar, a queda das atividades do país caiu vertiginosamente, a inflação foi às alturas e iniciou-se o processo da reengenharia, modismo administrativo importado de um brilhante (brilhante porque ficou rico com um livro e palestras pelo mundo todo e depois sumiu na poeira) economista americano que virou moda. A minha definição da reengenharia era: “A melhor forma de fazer com que uma só pessoa faça o trabalho de 10 no mesmo tempo disponível e com a mesma remuneração”

Em 1993, veio o modismo da ISO 9000 onde eu atuei como Gerente da Qualidade, responsável pela certificação de nossa unidade de negócios. A minha definição da ISO-9000 era e é : “Se você fabrica merda enlatada, ao certificar-se na ISO-9000 poderá garantir ao seu cliente que fará a merda enlatada sempre com as mesmas características de consistência, cor e odor.”

Eu tenho a impressão que estas minhas posturas sarcásticas não agradavam muito os meus novos superiores(os antigos haviam saído) e eu era chamado então de “velha bahiana” aquelas senhoras que desfilam lá no final da escola de samba, mostrando o passado...

O fato é que estas técnicas, não se adequavam corretamente ao processo de engenharia consultiva, como ficou provado depois. A engenharia de projetos é uma atividade de criação e não deve ser pasteurizada.
Assim, fomos tentando viabilizar novos negócios, terceirizando para reduzir custos até que a empresa, que já vinha mudando o seu foco para as telecomunicações, concentrou-se ainda mais nesta área. O meu tempo na empresa havia se esgotado. Metas dificilmente alcançáveis eram impostas. A área industrial, estava parada. Até o Fusca voltou! Eu que era responsável pela gerencia da construção de um shopping center, fui substituído por um integrante dos “novos bahianos” que estava sem função. Eu comecei seriamente a pensar em dar o meu vôo solo. Até que, por um infeliz(ou feliz?) acidente, no final de 1994, fiquei hospitalizado e afastado por 3 meses do trabalho. Fizeram minha cama(soube bem depois) e fui “saído” da empresa depois de 20 anos, no dia em que retornei à atividade. Mas sem crise! O fato foi benéfico. A forma foi deplorável. Não da minha parte, mas de “colegas”. Vivendo e aprendendo.

sexta-feira, setembro 10, 2004

Reminiscencias pessoais (3)

1985/1988
A Nova República veio junto com a hiperinflação que chegou a 225% em 1985. Eu estava quieto em minha pequena empresa, quando no início daquele ano, me veio um convite de trabalho que mudou a nossa vida da água para o vinho. O pessoal da Promon me convidou para assumir um ótimo cargo em Salvador-Bahia. Logo eu? Paulista, Paulistano, Pinheirense assumido! Fiquei de analisar o convite. Estava estável financeiramente, em teoria, não precisava mudar, mesmo sendo em uma empresa onde já havia trabalhado por quase 10 anos. Mas aí um mês depois, um fato aconteceu que me fez decidir mudar a vida. A violência urbana de São Paulo chegou a mim. Um tiroteio em frente à minha casa entre assaltantes e policiais, sendo que minha filha , com 4 anos de idade, assistia pela nossa janela. Fiquei assustado pois a minha rua era um oásis de tranqüilidade.Pimenta nos olhos dos outros não arde até que a sopram no seu olho...
Aceitei o convite, me desvencilhei dos trabalhos aqui, e nos mandamos de mala e cuia prá Salvador, cidade que eu não conhecia. Outra gente, outros costumes, um espanto para um paulistano típico como eu. E o desafio de começar de novo, numa filial da empresa partindo quase do zero. Acabou sendo uma das melhores fases da vida. Três anos e meio onde pudemos conhecer grandes amigos e ter uma qualidade de vida muito superior à que tínhamos em São Paulo. Em 1986, veio o Plano Cruzado que da euforia inicial, passou a ser nove meses depois o maior estelionato político deste país. Mas este é assunto para comentar no meu outro blog (http://estoudeolho.zip.net) . Este aqui é só para coisas pessoais. A inflação galopante fazia parte das nossas vidas pessoais. A gente tinha que fazer as compras de supermercado no dia 5 quando saía o salário senão a inflação comia a grana. Chegou a 366% em 1987 e a 933% em 1988. Por uma questão profissional, de crescimento dentro da empresa, topei a volta às origens. De volta a Sampa, contra a vontade de Kaká e júbilo de minha filha.

terça-feira, agosto 31, 2004

Reminiscencias profissionais (2)

Oscar Niemeyer, de 1987 a 1989

O projeto do Memorial foi uma grande realização pessoal e profissional. Não envolveu somente o aspecto técnico. Foi uma oportunidade de conviver e conhecer pessoas fora do ambiente frio e fechado da engenharia e da competição interna típica das grandes empresas.

Não vou discutir as qualidades ou defeitos das obras de Oscar. São bonitas e pronto.São desafiantes pelo arrôjo. Mas a forma de condução do projeto, onde ele chama os artistas para colaborarem e complementarem sua obra nos insere num meio onde só as habilidades gerenciais técnicas não são suficientes. Aprendi a gerenciar pessoas, egos, estrelismos, tentando sempre agrupar uma equipe. Conheci artistas notáveis. Bruno Giorgi, Athos Bulcão, Carybé(grande figura!), Poty, Maria Bonomi, Tomie Ohtake, Franz Weismann, Marianne Peretti.

Conheci políticos mais de perto. Eu que sempre fui um pouco afastado da política, tive que gerenciar um Darcy Ribeiro( a gente pagava os honorários dele como assessor cultural do Memorial). Prestar contas para o Quércia que vinha todo mês à obra. Estar presente em todos os eventos de visita às obras onde Darcy, na salinha de reuniões no barraco de obra fazia sempre o mesmo discurso de no mínimo meia hora.Eu já havia decorado o discurso. Numa vez, o Dr. Ulisses (o senhor diretas), dormiu profundamente enquanto Darcy apaixonadamente discursava sobre as origens étnicas do povo latino-americano.

Conheci Jorge Amado e Zélia Gattai (tenho livro autografado por eles).

Nos 20 meses de obras, pude ver de perto a simplicidade de Oscar. Comunista convicto, sempre dividiu tudo que ganhava com os amigos, colaboradores e família. Estava sempre duro. Se hospedava aqui em SP num hotel 5 estrelas mas não pagava. Era cortesia do hotel por ter um hóspede famoso. Com muita simplicidade, trafegava com desenvoltura tanto à esquerda como à direita. Quando eu ia ao Rio ver o andamento do projeto, passava em seu escritório em Copacabana, às vezes almoçava por lá mesmo com a equipe, numa salinha de refeições. No fim de tarde, sentava com ele e mais outras pessoas na sua sala de trabalho, ficávamos jogando conversa fora, tomando uísque e ele fumando sua cigarilha cubana. Ouvindo os “causos” que ele gostava e gosta de contar. Sobre as obras da Argélia, da França, da Itália, de Brasília. Casos engraçados e pitorescos.

Nas noites frias do inverno de São Paulo, no final do expediente a gente se reunia no barraco da construtora, fazia um balanço do dia em meio a um happy hour com direito a vinho e sanduíche do Ponto Chic. Oscar contava suas histórias como o vovô com seus netos ao redor.

A obra correu bem.Como toda obra, com atropelos, felizmente sem acidentes.Casos engraçados? Vários.Incidentes? Alguns.
Um deles quase me custou a cabeça na empresa. Se quisessem criar um CFJ naquela época eu apoiaria de imediato. Uma irresponsabilidade mentirosa de um repórter de jornal me deixou de saia justa.As imagens postadas abaixo são auto-explicativas.
A maior saia justa de todas, foi quando a Prefeita Luíza Erundina se encrespou com Quércia às vésperas da inauguração, ameaçou de mandar fiscais à obra e caso encontrassem alguma irregularidade, interditaria e não haveria inauguração. Sobrou pra mim e para Oscar. O Secretário Fernando Morais, me pediu para receber a comitiva de fiscais e avisá-lo caso eles quisessem interditar alguma coisa. O Governador estava disposto a mandar a tropa de choque da PM. Ia ser o maior barraco.
Chegaram os fiscais, a Globo, o SBT, etc e tal. Convidei o chefe deles, um arquiteto, para conhecer Oscar que estava em sua sala no barraco de obra. Ele ficou encantado e agradecido. Enquanto isso, os fiscais percorreram a obra e não encontraram nada de errado (nem havia nada para encontrar). Foram embora e o episódio foi contornado.
Finalmente, obra inaugurada com toda a pompa e circunstância. Está lá. Gostem ou não gostem.


saia justa hein meu? Posted by Hello

por conta da irresponsabilidade de um reporter Posted by Hello

dia em que saí nas manchetes Posted by Hello

Reminiscencias Pessoais

Infância , adolescencia e juventude
Os anos 60/70/80 na ditadura

1964
Em 31 de março de 1964, me lembro bem, tinha 12 anos.Estava em meu quarto à noite depois do jantar, deitado e escutando meu radinho de pilha (Um HITACHI que tenho até hoje guardado. Não funciona, parece um tijolo, mas está guardado). Eu costumava ouvir de noite o programa da rádio Record, Histórias da Maloca com Adoniran Barbosa onde ele era o Charutinho e Maria Tereza(a Terezoca). Ouvia também o programa PRK-30 na rádio Record de São Paulo, com Castro Barbosa e Lauro Borges.Eu adorava também ouvir o programa do Moraes Sarmento na rádio Bandeirantes.

De repente, veio a interrupção do programa para uma notícia urgente. Dava conta que um tal general não sei das quantas estava vindo de Minas Gerais para o Rio de Janeiro para prender o presidente Goulart. Foi assim que eu entendi. Me perguntei: por que será? Fiquei assustado quando meu pai a quem fui perguntar o que ocorria, estava também com ouvido colado no seu rádio, falando baixo com minha mãe e me disse . “Vai dormir que você não entende nada” . Mas deu para perceber que tinha alguma coisa errada.
No dia seguinte, fui para a escola) normalmente(estava no segundo ano ginasial e ao chegar lá, havia um aviso de que não haveria aula.Achei ótimo.Vou jogar futebol com os amigos.

Depois soube que o presidente Jango havia fugido do país e tínhamos um novo presidente. Também me lembro bem que pensei. “Que sujeito covarde. Porque fugiu?”. Assim se passaram quatro anos, eu somente preocupado com estudos, meu violão e os namoricos.

1968
Em 13 de dezembro de 1968, eu havia terminado o segundo ano científico, com uma segunda época em Química. Desde 1967, fazia parte da turminha do Grêmio da escola, tendo sido secretário e havia conhecido José Dirceu, Presidente da UEE que junto com outros militantes vinham à escola piquetear e convidar para as várias greves e passeatas na Rua Teodoro Sampaio.
(José Dirceu foi preso no famoso congresso da UNE em Ibiúna e nunca mais o vi. A fama dele entre nós do colégio era de covarde, que incitava os outros a enfrentar a repressão e depois corria do pau.)

Nossa diretora, D. Clélia, era além de exigente professora de Português, juíza de Direito e tinha um bom senso fabuloso. Ao contrário de outros diretores de outras escolas públicas, ela nos dava liberdade mas exigia a responsabilidade. Nos deixava debater a política dentro da escola mas nos alertava para não fazermos o mesmo fora da escola ou nos arredores pela nossa segurança.Nos recomendava a não participar das passeatas pois temia pela nossa integridade física. Me lembro até que um dia, uma viatura policial, apareceu no colégio pois, por denúncia de algum espírito de porco haveria reunião subversiva em nosso Grêmio.Estávamos justamente em assembléia interna, decidindo se participaríamos ou não das passeatas. Os gorilas tentaram entrar no colégio e D. Clélia os barrou dizendo que era a responsável pelos alunos e que só entrariam com expressa autorização do Secretário da Educação ou do Governador ou de um mandado judicial. não sabemos se ela se identificou como juíza mas o fato é que eles foram embora.

A gente nesta época com 16, 17 anos, vivíamos em festinhas e bailinhos. Andávamos em bando pelas ruas à noite e deixávamos nossos pais muito preocupados pois a repressão corria solta. Nós também ficávamos ressabiados, circulando pelos bailinhos de sábado à espreita de alguma perua Veraneio com chapa fria que significava o pessoal do DOI-CODI e da OBAN. Nosso jornal preferido era o Pasquim. Tarso de Castro, Millor, Jaguar, Ziraldo, Ivan Lessa, Paulo Francis, Henfil. A musa era Leila Diniz. Que mulherão!

1969
Cursinho e terceiro científico juntos. Não dava tempo nem pra pensar em política. O negócio era entrar na USP. Foi a primeira vez que ouvi falar de Fernando Henrique Cardoso na casa de uma colega, onde estudávamos juntos, a turminha do colégio, que estava na mesma classe do cursinho.Os pais dela, em voz baixa comentavam que o Fernando Henrique, amigo deles, havia sido aposentado pelo AI-5.

1970
Enfim, USP. Primeiro na Física, depois na Poli. O pessoal da Física era super politizado, de esquerda. Mário Schemberg era o ícone pela sapiência e capacidade, mas aposentado pelo AI-5 . O professor José Goldenberg era diretor da faculdade. Vivíamos em greve...
Na Poli, o pessoal era considerado “reaça” pois viviam para estudar e não davam muita bola para atividades extra-curriculares como protestos e greves. Eu no meio do sanduíche. De dia, era o “comuna” entre os politécnicos, de noite, o “reaça” entre os físicos. Eu preferia mesmo era jogar meu crepe no bar do Belo na Poli de manhã e dormir numa aula de Física-Matemática à noite.

1971/1976
Namorada firme, cursando 2 faculdades, arranjei estágio numa empresa de engenharia que viria a se tornar a maior empresa de consultoria e projetos do Brasil. O pai da minha namorada era do DOPS (vige! que medo!) mas foi ele que descobriu que eu era fichado lá. Pela minha singela função de secretário do Grêmio do colégio. Viram? O Big Brother já existia...

continuo depois...

reminiscencias pessoais - continuação

1976/1979... continuação

Com minha ficha devidamente limpa, obra do meu ex-futuro sogro, terminei as faculdades. Terminou também o namoro que tinha virado noivado. Já estava a esta época, totalmente despolitizado. Virei cria do milagre brasileiro. Era rico e não sabia. Tinha emprego, carro do ano, sem obrigações, solteiro, cama, comida e roupa lavada. Era a época do General Geisel. A época do choque do petróleo. Éramos imunes aos choques internacionais. Uma ilha de tranqüilidade. Época da abertura lenta, gradual e segura.Conheci em 1977, uma garota linda. Namoramos. Noivamos. Casamos em 1979. Compramos casa pelo SFH, via Banco do Brasil. Moleza pagar...só 11 anos.

1980/1982
Nasce minha filha. Nasce também neste ano, um partido político que se intitulava representante dos trabalhadores. E eu me perguntava à esta época. Quem são estes sujeitos que pretendem defender os trabalhadores mas me chamam de burguês? Eu trabalho 8,5 horas por dia, seis dias por semana e não posso ser considerado companheiro deles? A recessão econômica por conta dos choques internacionais e pelas “cagadas” dos milicos e de políticos a eles ligados começava a se apresentar. Os negócios rareavam. A empresa onde eu trabalhava demitia. O “facão” passou a ser a ordem do dia.O Presidente era o General Figueiredo, aquele que gostava mais de cheiro de cavalo que de gente.Veio a anistia. Serra, Covas, Fernando Henrique, José Serra, Brizola, entre tantos outros... O caso do Rio Centro repercute.

1983
Me demito do meu emprego. Vou trabalhar por conta.Passo um aperto do cacete. O Partido dos Trabalhadores, que podia me representar, não está nem aí pra mim. Não me sinto representado. A minha vida depende só de mim.E eu faço por acontecer.Minha pequena empresa formada por mim e minha esposa, floresce. Campanha pelas Diretas Já. Nunca eu havia votado para Presidente. E já tinha sido mesário, nas eleições por 3 vezes... O problema da violência urbana aumenta.

1984 /1985
Colégio Eleitoral. Tancredo é eleito. Morre antes de tomar posse. Sarney assume. É o princípio da redemocratização e o final melancólico da Ditadura. O General Figueiredo sai pela porta dos fundos e é esquecido. Chega a Nova República.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Reminiscências Profissionais

Oscar Niemeyer, setembro de 1987

Era eu, executivo da empresa em Salvador-Bahia desde 1985. Estava posto em sossego no escritório pensando em pegar uma prainha de fim de tarde, quando recebi um telefonema de meu diretor do Rio de Janeiro, me convocando para uma reunião urgente em São Paulo na manhã seguinte. Não me disse o assunto. Eu saberia quando chegasse.
Meio encafifado com o mistério, peguei o Corujão da Transbrasil e fui direto do aeroporto de Guarulhos para a sede da empresa. Lá chegando, enquanto tomávamos o café da manhã ele me informou que iríamos a uma reunião com o Governador Quércia, na Estação da Barra Funda do Metrô. Lá eu me inteiraria do assunto. Com a pulga atrás da orelha, pegamos o carro da empresa e fomos.
A reunião era ao ar livre, num terreno abandonado da FEPASA ao lado da Estação. Estavam lá além do Governador, o Secretário da Cultura, Fernando Morais e Darcy Ribeiro, à época assessor cultural do Governo.Eu estava meio que não entendendo o que eu fazia ali.Fui apresentado aos figurões e fiquei um tanto deslocado, observando as conversas. Depois de uma meia-hora, chegou num Dodge Dart todo arrebentado o Arquiteto Oscar Niemeyer. Quando nosso Diretor me apresentou a ele, aproveitou para desvendar o mistério. Tal “reunião” era a solenidade de lançamento da pedra fundamental do Memorial da América Latina e eu havia sido designado para dirigir o projeto. Para um profissional como eu, que havia dirigido projetos basicamente industriais, era uma novidade e também um desafio. O projeto era arrojado, como todos os projetos de Niemeyer são. O prazo era curtíssimo face ao tamanho da obra. Eu ainda teria que me dividir entre as funções bahianas, as novas funções na obra em São Paulo e a coordenação com o projeto que seria desenvolvido em parte no Rio de Janeiro. Diante desta minha preocupação, meu chefe, só ponderou o seguinte:
“-Faça como quiser. Se quiser mudar para SP, ou Rio, ou ficar em Salvador, você é quem decide. A obra é sua”.

Desta forma, começou o relacionamento com esta pessoa notável, uma figura sensacional, com quem eu iria trabalhar nos próximos 4 anos.
O resto, conto depois.

sexta-feira, julho 16, 2004

primeiro post

Eu inaugurei este blog pensando em postar assuntos relativos à economia e política. Pensei em usá-lo para isso...

Mas pensei melhor. Vou usá-lo para temas que me vêm à cabeça diariamente sobre a vida.Os temores, os anseios, sonhos e desejos não resolvidos ou realizados.Idéias que a gente tem, mas que por não colocar em prática se esvaem.

As coisas que fiz, que realizei, aquelas que tenho orgulho e aquelas das quais me arrependi. Aquelas que me lembro com alegria. Penso em guardar todos estes assuntos em algum canto da minha mente para pensar melhor sobre eles e registra-los depois, mas eles somem. Ficam esquecidos naquele canto. Vou tentar me lembrar de situações interessantes e pitorescas pelas quais passei e colocar aqui. Para que os outros ao lerem, se identifiquem ou não, concordem ou não, riam ou se emocionem.É a minha experiência da vida. Não será um diário, pois que não terá cronologia. Mas será uma resenha da minha vida.