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terça-feira, agosto 31, 2004

Reminiscencias Pessoais

Infância , adolescencia e juventude
Os anos 60/70/80 na ditadura

1964
Em 31 de março de 1964, me lembro bem, tinha 12 anos.Estava em meu quarto à noite depois do jantar, deitado e escutando meu radinho de pilha (Um HITACHI que tenho até hoje guardado. Não funciona, parece um tijolo, mas está guardado). Eu costumava ouvir de noite o programa da rádio Record, Histórias da Maloca com Adoniran Barbosa onde ele era o Charutinho e Maria Tereza(a Terezoca). Ouvia também o programa PRK-30 na rádio Record de São Paulo, com Castro Barbosa e Lauro Borges.Eu adorava também ouvir o programa do Moraes Sarmento na rádio Bandeirantes.

De repente, veio a interrupção do programa para uma notícia urgente. Dava conta que um tal general não sei das quantas estava vindo de Minas Gerais para o Rio de Janeiro para prender o presidente Goulart. Foi assim que eu entendi. Me perguntei: por que será? Fiquei assustado quando meu pai a quem fui perguntar o que ocorria, estava também com ouvido colado no seu rádio, falando baixo com minha mãe e me disse . “Vai dormir que você não entende nada” . Mas deu para perceber que tinha alguma coisa errada.
No dia seguinte, fui para a escola) normalmente(estava no segundo ano ginasial e ao chegar lá, havia um aviso de que não haveria aula.Achei ótimo.Vou jogar futebol com os amigos.

Depois soube que o presidente Jango havia fugido do país e tínhamos um novo presidente. Também me lembro bem que pensei. “Que sujeito covarde. Porque fugiu?”. Assim se passaram quatro anos, eu somente preocupado com estudos, meu violão e os namoricos.

1968
Em 13 de dezembro de 1968, eu havia terminado o segundo ano científico, com uma segunda época em Química. Desde 1967, fazia parte da turminha do Grêmio da escola, tendo sido secretário e havia conhecido José Dirceu, Presidente da UEE que junto com outros militantes vinham à escola piquetear e convidar para as várias greves e passeatas na Rua Teodoro Sampaio.
(José Dirceu foi preso no famoso congresso da UNE em Ibiúna e nunca mais o vi. A fama dele entre nós do colégio era de covarde, que incitava os outros a enfrentar a repressão e depois corria do pau.)

Nossa diretora, D. Clélia, era além de exigente professora de Português, juíza de Direito e tinha um bom senso fabuloso. Ao contrário de outros diretores de outras escolas públicas, ela nos dava liberdade mas exigia a responsabilidade. Nos deixava debater a política dentro da escola mas nos alertava para não fazermos o mesmo fora da escola ou nos arredores pela nossa segurança.Nos recomendava a não participar das passeatas pois temia pela nossa integridade física. Me lembro até que um dia, uma viatura policial, apareceu no colégio pois, por denúncia de algum espírito de porco haveria reunião subversiva em nosso Grêmio.Estávamos justamente em assembléia interna, decidindo se participaríamos ou não das passeatas. Os gorilas tentaram entrar no colégio e D. Clélia os barrou dizendo que era a responsável pelos alunos e que só entrariam com expressa autorização do Secretário da Educação ou do Governador ou de um mandado judicial. não sabemos se ela se identificou como juíza mas o fato é que eles foram embora.

A gente nesta época com 16, 17 anos, vivíamos em festinhas e bailinhos. Andávamos em bando pelas ruas à noite e deixávamos nossos pais muito preocupados pois a repressão corria solta. Nós também ficávamos ressabiados, circulando pelos bailinhos de sábado à espreita de alguma perua Veraneio com chapa fria que significava o pessoal do DOI-CODI e da OBAN. Nosso jornal preferido era o Pasquim. Tarso de Castro, Millor, Jaguar, Ziraldo, Ivan Lessa, Paulo Francis, Henfil. A musa era Leila Diniz. Que mulherão!

1969
Cursinho e terceiro científico juntos. Não dava tempo nem pra pensar em política. O negócio era entrar na USP. Foi a primeira vez que ouvi falar de Fernando Henrique Cardoso na casa de uma colega, onde estudávamos juntos, a turminha do colégio, que estava na mesma classe do cursinho.Os pais dela, em voz baixa comentavam que o Fernando Henrique, amigo deles, havia sido aposentado pelo AI-5.

1970
Enfim, USP. Primeiro na Física, depois na Poli. O pessoal da Física era super politizado, de esquerda. Mário Schemberg era o ícone pela sapiência e capacidade, mas aposentado pelo AI-5 . O professor José Goldenberg era diretor da faculdade. Vivíamos em greve...
Na Poli, o pessoal era considerado “reaça” pois viviam para estudar e não davam muita bola para atividades extra-curriculares como protestos e greves. Eu no meio do sanduíche. De dia, era o “comuna” entre os politécnicos, de noite, o “reaça” entre os físicos. Eu preferia mesmo era jogar meu crepe no bar do Belo na Poli de manhã e dormir numa aula de Física-Matemática à noite.

1971/1976
Namorada firme, cursando 2 faculdades, arranjei estágio numa empresa de engenharia que viria a se tornar a maior empresa de consultoria e projetos do Brasil. O pai da minha namorada era do DOPS (vige! que medo!) mas foi ele que descobriu que eu era fichado lá. Pela minha singela função de secretário do Grêmio do colégio. Viram? O Big Brother já existia...

continuo depois...

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, Tunico
tô aqui, numa pausa de trablalho, lendo essas reminiscências, com muita coisa familiar...
Mas que história, heim?
Tempos de medo! Nessa época, um primo dos primos sumiu por 5 dias. Apareceu morto, as "autoridades" disseram que ele tinha tentado fugir e um carro atropelou... Mas as manchas roxas no rapaz não diziam isso!
Todo mundo calado e na calada! Terror!
Ah, é a Diza
beijinho.