Fazia tempo que queria reformar minha casa. Foi-me indicado um profissional que diziam fazer um bom trabalho. Não apoiei, mas toda a minha família ficou satisfeita com a contratação dele. Diziam que, mesmo sem muita experiência, era um cara honesto e coisa e tal. E, devo dizer a verdade, ele quase me convenceu com seus argumentos.
Encheu-me de promessas, falando que faria isso, que resolveria tal problema, que mexeria nos alicerces. Em suma, que tudo ficaria como novo. Mas, de uma hora pra outra, começaram a sumir coisas lá de casa. Uma caneta, alguns DVD's, um rádio. Depois as coisas desaparecidas foram ficando maiores. Quando dei por mim, tinham-me levado até o carro.
Confrontei o homem a quem havia contratado. Ele acusava seus ajudantes, dizendo que não sabia de nada. Segundo ele, estava focado apenas no trabalho. Descobriu, logo depois, que minhas suspeitas eram verdade. Seus funcionários estavam roubando de mim. Trocou de equipe.
Mandou todos embora, trouxe novos ajudantes e um capataz de gestos rudes porém segundo ele, muito eficiente. A reforma continuava, ainda que a passos curtos e lentos. Nesse momento, eu e minha família estávamos mais do que desconfiados. Mas demos outra chance, desta vez com olhos mais abertos.
No entanto, as coisas continuaram a sumir de casa, mesmo com a nova equipe. O chefe seguia se eximindo da culpa sempre que pegava algum dos seus roubando. "Não sabia de nada, como posso responder por eles?", dizia o homem. Um dia, acabou o prazo para entregar a casa pronta. Faltou muito para chegar ao menos perto do que havia prometido.
O pior é que, ao longo do tempo de trabalho, ele foi mudando tudo o que falara no início. Se disse que ia fazer uma coisa, ia lá e fazia outra. Se assumira compromisso com a minha família em relação a tal assunto, pouco depois parecia que esquecera completamente. Simplesmente parecia outra pessoa.
Mesmo com tudo isso, o safado ainda teve a cara-de-pau de vir me pedir por mais tempo de trabalho, agora com seu capataz à frente da obra. Sim, depois de todos os seus ajudantes terem me roubado, tanto os velhos quanto os novos, depois de ter mentido descaradamente para mim, depois de me prometer coisas que não chegou nem perto de cumprir, depois de se fazer de inocente frente a todas as acusações, ele ainda queria continuar dentro da minha casa.
Claro que eu jamais aceitaria isso. Não sou idiota. Minha família veio dizer que em reformas de outras casas por outros profissionais isso havia acontecido também, coisas haviam sumido. Tudo bem, pode ter acontecido, mas nunca tão descarado quanto agora. Nunca mesmo. E, de qualquer forma, desde quando os erros dos caras do passado justificam o roubo do cara de agora?
Era só o que me faltava: deixar um ladrão, mentiroso e ignorante na minha casa por mais tempo porque "outros também fizeram". Se dependesse só de mim, contrataria outro agora mesmo. E se esse outro roubasse de mim, contrataria outro. Até um deles me respeitar. Até eu achar alguém que faça o trabalho de forma decente e ética.
O problema é que combinei com a minha família que ninguém tomaria uma decisão dessas sozinho. O que a maioria decidir, será feito. A votação ficou pra domingo, dia 31. Só espero que as 190 milhões de pessoas que moram comigo mostrem-se mais inteligentes do que parecem.
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