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sexta-feira, agosto 12, 2005

Choro do PT ainda é arrogância. É pouco. Por Reinaldo Azevedo

Em "O Existencialismo É um Humanismo", um livro da fase não stalinista de Sartre, ele lembra que os católicos acusavam os existencialistas de não se comover nem com o sorriso de uma criança. Transformava assim em caricatura a descrença de sua corrente de pensamento numa essência humana anterior à própria existência dos seres tomados individualmente. Pois é.
Em matéria de petistas, estou como aquela caricatura: suas lágrimas não me comovem. Sempre que eu vir um petista chorando de tristeza, um pouco mais do país está a salvo da mistificação e da rapinagem. Por mim, que inundem o Parlamento. Sempre será por motivos justificáveis e justificados.
O mal que essa gente faz ao país não se mede só no curto prazo.Acho até engraçado quando dizem que sou tucano em tom de acusação. Tucanos, no geral, vêem os petistas como irmãos meio abilolados ou filhos destrambelhados.
Eu os considero sabotadores da democracia. Não lhes dou uma mesada de boa vontade. Espero que a democracia se encarregue de bani-los do jogo político. Usam a democracia para solapá-la, não para aprimorá-la. Trazem a semente da destruição de um regime de liberdades públicas e de garantia de direitos individuais.
Não creio que o país precise do PT e do que ele representa. Também não quero pô-los na ilegalidade. Prefiro que eles mesmos caminhem para ela e que sejam tornados inofensivos pelas regras democráticas. Quero fazer avançar o Estado de Direito: quanto mais oxigênio democrático houver, menos petismo. São como bactérias anaeróbias.Eles mentiram. E não seriam melhores se estivessem praticando a sua verdade. Ao contrário: seriam piores.
O país só não está à beira do abismo porque, felizmente, praticaram estelionato eleitoral e, uma vez no poder, fizeram com a economia justamente o contrário do que pregavam. O que também não quer dizer que tenham escolhido o melhor caminho entre as opções dadas. A menos que alguém considere que juros reais de 15%, com superávit de 5%, câmbio depreciado, atraindo capital especulativo, o que aumenta a dívida pública, tornando crescente a necessidade de superávit, seja um ciclo virtuoso.
Mas — e isso também já escrevi — a alternativa, dentro do próprio PT, era ainda pior. Por que precisamos de um partido que, na economia, ou é estelionatário ou incendiário? Não sei.Aí diziam que precisávamos de um partido como o PT porque eles teriam inserção social e reuniriam uma experiência com políticas públicas superior a tudo aquilo que se havia visto no Brasil. Era também uma grossa mentira.
Ao contrário: são incompetentes como gerentes. Não conseguem ter a gerência nem mesmo do seu próprio aparelho partidário, menos ainda a do Brasil. Só avançaram, nestes dois anos e meio, as áreas que ficaram intocadas pelo Moderno Príncipe. Aonde o PT chegou, experimentou-se a terra arrasada.
O crescimento brasileiro no período, medíocre na média dos três anos, é muito inferior à dos congêneres emergentes. Por que precisamos de um partido que leva a gestão do Estado à beira da falência? Que não consegue nem dar remédio para meia dúzia de indiozinhos? Que não viu frutificar um miserável programa da área social?
Aí, então, diziam que precisávamos do PT porque eles encarnavam um diferencial ético como nunca se havia visto na política nacional, uma vez que traziam as experiências dos movimentos sociais de base, os valores do cristianismo popular e todas as justas utopias (eles dizem ser justas; a mim me enojam) da esquerda socialista. E, no entanto, jamais se assistiu a tamanha degradação da República. Jamais descemos tão baixo na esculhambação, na ilegalidade e até no vocabulário que marca estes tempos. “Cueca” foi parar no Jornal Nacional. Valério lamentou em plena seção da CPI a “cagada”; mais tarde, usou o verbo “foder” como sinônimo de “prejudicar”. A rua chegou à Casa do Povo. Não a rua da res publica, mas o beco, o botequim, o submundo, a escória.
Por que precisamos de corruptos cujo diferencial é a facilidade com que sempre acusaram os outros de corrupção? Por que precisamos do PT?As lágrimas dos petistas não me comovem. Façam como eu. Não sejam petistas e jamais terão de chorar por isso. Chorem lendo os Dublinenses, alguns sonetos de Mário Faustino, vendo Amarcord, de Fellini. Se quiserem, chorem lendo até Coração de Vidro, de José Mauro de Vasconcelos ou alugando o DVD do Bambi.
Mas, por favor, não chorem lamentando a justiça que vocês queriam fazer por nós. Essas lágrimas nem mesmo irrigam uma história meritória. Essas lágrimas, bem como a verborragia hoje vitoriosa dos psolistas (do PSOL) salgam chagas ainda abertas em biografias que foram esmagadas, pisoteadas, satanizadas, chutadas nas ruas, nas praças, nos mercados.
O PT ainda não expiou todo o mal que já fez ao Brasil e o mal que ainda pretendia fazer. Choram por autocomiseração, não por arrependimento. Por incrível que pareça, seu choro é sinal de arrogância. E já digo por quê.

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