Este texto eu copiei do blog do Roland Cooke. Impecável, vale a pena ler.
Jornal
decide contar ao leitor o que os jornalistas e o governo sabiam há
muito: Lula e Rosemary, no centro do novo escândalo, eram amantes desde
1993
"Deite, que hoje vou lhe usar"
Coronel Jesuíno (José Wilker) para Sinhazinha, na minissérie "Gabriela", da TV Globo
Eu costumo
acordar cedo. Pela seis da manhã, eu já estou fora da cama. A meia-idade
tem dessas coisas, a gente tem sono só na hora errada. Aos sábados não é
diferente. E hoje segui o costume. Levanto às seis, banheiro para as
atividades inerentes ao local, vou à cozinha, ponho um café-com-leite no
microondas, espero, pego a xícara e rumo ao escritório, onde mora a
minha janela para o mundo, um notebook ligado numa conexão sonolenta com
a internet. Ligo, espero carregar, clico no ícone da Veja On-Line, para
ver as novidades. Nada de muito interessante, Israel vai metendo os pés
pelas mãos na Cisjordânia (preciso escrever sobre isso mais tarde, há
dias escrevi um post defendendo Israel do jogo sujo da mídia, mas essa
de permitir a expansão dos assentamentos em represália à decisão da ONU
de reconhecer a Palestina com Estado Observador é, para dizer o mínimo,
um tremendo tiro no pé, parece até coisa de petista!), mais uns rolos da
tal Rosemary, enfim, mais do mesmo. Vou à coluna do Reinaldo Azevedo,
sempre um prazer de ler. Hummm... Hein? Como é? Deparo-me com o seguinte texto:
Um
homem público ter uma amante é ou não assunto relevante? Nos EUA, basta
para liquidar uma carreira política, como estamos cansados de saber.
Foi um caso extraconjugal que derrubou o todo-poderoso da CIA e quase
herói nacional David Petraeus.
Desde
quando estourou o mais recente escândalo da República, todos os
jornalistas que cobrem política e toda Brasília sabiam que Rosemary
Nóvoa Noronha tinha sido — se ainda é, não sei — amante de Lula. Assim
define a palavra o Dicionário Houaiss: “Amante
é a pessoa que tem com outra relações sexuais mais ou menos estáveis,
mas não formalizadas pelo casamento; amásio, amásia”.
Embora
a relação fosse conhecida, a imprensa brasileira se manteve longe do
caso. Quando, no entanto, fica evidente que a pessoa em questão se
imiscui em assuntos da República em razão dessa proximidade e está
envolvida com a nomeação de um diretor de uma agência reguladora
apontado pela PF como chefe de quadrilha, aí o assunto deixa de ser
“pessoal” para se tornar uma questão de interesse público.
O
caso, com todos os seus lances patéticos e sórdidos, evidencia a
gigantesca dificuldade que Lula sempre teve e tem de distinguir as
questões pessoais das de Estado. Como se considera uma espécie de
demiurgo, de ungido, de super-homem, não reconhece como legítimos os
limites da ética, do decoro e das leis. (...)
Ainda segundo o texto do Reinaldo, o jornal responsável pela notícia é a Folha de São Paulo que, ao questionar o
porta-voz do Instituto Lula, José Chrispiniano, ouviu dele a afirmação
de que "o ex-presidente Lula não faria comentários sobre assuntos
particulares".
Fiquei
ali uns cinco minutos, olhando aquilo, meu café esquecido, esfriando no
canto da escrivaninha. A notícia era inacreditável. Quer dizer, se
analisado à luz fria dos fatos, fazia todo sentido. A nomeação da moça,
seu poder quase rasputiniano, seu trânsito com o "PR" (Presidente), sua
preocupação com plásticas e coisas afins, as viagens sem justificativa
aparente, seu poder junto ao chefe e sua sede de aproveitar ao máximo
esse poder. Até mesmo a repentina viagem de Lula à Europa, logo que
eclodiu o escândalo do tráfico de influência da "Rose". O prudente
distanciamento de Dilma, acoplada à intensa movimentação nos bastidores
para evitar, a qualquer custo, que a dita-cuja seja interrogada por
parlamentares da oposição. Tudo se encaixava, tudo começava a fazer
sentido. Mas... até NESSE tipo de escândalo, o Imperador de Garanhuns se
mete? Tem foto rodando a internet, com o abraço carinhoso dos três
protagonistas desse triângulo: Lula, Rose e Marisa Letícia! Cara de pau,
o Coronel Jesuíno do Planalto, não?
Ok,
ok.... vamos com cautela. Vai que o Reinaldo perdeu o juízo... Para
buscar a contrapartida, vou ao blog sujinho mais popular da esgotosfera
petista: o Brasil 247. Ela certamente deve estar esbravejando por conta
de tal injúria contra seu ídolo máximo. Hummm... não. O blog a serviço
do lulopetismo não desmente nada. Pelo tom das manchetes espalhafatosas
que estampa na abertura, pelo contrário: praticamente confirma a notícia
da Folha, com a ressalva podre de que "FHC fez o mesmo, e não deu nem
escândalo, pois foi tudo abafado pelo "PIG" (a maneira estranha pela
qual a imprensa a serviço do governo se refere a qualquer tipo de
imprensa que não lamba as botas do petismo).
O
mais impressionante é que, segundo a Folha, esse fato já era rumor
corriqueiro em Brasília há mais de uma década - e nunca ganhou
repercussão! E isso num país onde até a sexualidade de figurinhas
carimbadas da TV vira hit da internet!
Muito
bem.... Antes de fazer qualquer análise do caso, e preciso apurar sua
veracidade. Pelo que se vê na internet, é "pedra 90", ou seja,
verdadeira. Isso posto, é preciso separar as coisas. A vida sexual de Luiz Inácio Lula da Silva, é da minha conta? Óbvio que não,
assim como a minha não é da conta de ninguém. Afinal de contas, ter
amantes é corriqueiro em nossa sociedade. Há centenas de anedotas a
respeito, e poucas condenam a atividade "por fora" do casamento, desde
que executada pelo marido. Chamar um homem de "galinha" no Brasil,
sequer chega a ser um xingamento, mas no máximo uma leve repreensão,
muitas vezes eivada de inveja. Claro que no caso da mulher infiel, a
coisa muda de figura. Chamar de "galinha" é ofensa mortal. É uma grande
injustiça, fruto do machismo que ainda permeia a nossa sociedade. Mas
eu é que não me meto a querer corrigir o mundo na sua visão machista da
traição, não. Quem tem chifres que os ajeite como melhor lhe aprouver. E
não será a primeira vez em que um chefe de Estado dá suas puladas de
cerca, nem será a última. Muito antes de Dom Pedro I conceder o título
de Marquesa à bela Domitilia, a corte era célebre por seus casos
extraconjugais. Boa parte dos presidentes brasileiros tinham lá suas
"peguetes" (para usar um termo mais atual). Na cultura latina, isso nem
era considerado pecado grave. E segue sendo tolerado com bom humor.
Estamos muito mais para os italianos que morrem de inveja de Silvio
Berlusconi e suas festas "bunga-bunga", do que para o falso puritanismo
americano que por pouco não causou o impeachment de Bill Clinton por
suas aventuras sexuais com uma estagiária da Casa Branca. O caso do
ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, um voraz reprodutor
extraconjugal, nunca causou espécie entre seus admiradores, mesmo ele
tendo sido padre durante o período em que "pegava geral". Para a idiotia
latino-americana, a promiscuidade (masculina, é certo) é quase um
sinônimo de "macheza", desejável, portanto. Lula, ao ter uma amante,
provavelmente não teria grande desgaste em sua imagem, tradicionalmente
revestida de teflon contra escândalos de toda ordem. O fanatismo
pró-Lula é tão arraigado, que esse seria considerado um "mal menor" e
que, de mais a mais, nem é crime coisa nenhuma. No caso dele seria
apenas mais uma faceta do folclore lulista, assim como seu hábito de
tomar uns goles além da conta da "mardita pinga", e de abominar certos
hábitos típicos de pessoas ditas civilizadas, como a leitura. De fato,
os comentários dos leitores do "247" estavam, de modo geral, todos
alinhados com esse pensamento: Lula é "o cara", além de "ter salvo o
Brasil", é "pegador". Sabem como é, aos idiotas tudo é permitido.
Sabe-se
que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve um caso
extraconjugal, com uma jornalista da Globo. Ela teve um filho, que foi
reconhecido por FHC como filho da união dos dois. Anos depois, provou-se
que o filho não era de FHC, o que não muda absolutamente nada no fato
de que houve um caso fora do casamento. Os blogs a serviço do
lulopetismo estão explorando esse fato à exaustão, tentando traçar um
paralelo entre os dois casos, de modo a "aliviar a barra" de Lula. À
primeira vista, seria isso mesmo: dois presidentes, dois casos, nada de
novo no front. Cada um que faça seu julgamento pessoal sobre esse tipo
de comportamento. Creio que poucos farão uma censura rigorosa, talvez
lembrando daquela frase de Jesus Cristo: "Atire a primeira pedra, quem
nunca errou..." Na mente nos lulistas, são casos análogos, e se um foi
esquecido pela grande imprensa, o outro merece o mesmo destino.
Eu discordo disso - e mostro por quê.
Ter
uma amante é "assunto particular", sem dúvida. Mas espetar a conta da
manutenção da amante na viúva (leia-se: erário, o seu, o meu, o nosso
dinheiro), já extrapola a seara do "particular" para chafurdar naquilo
que o petismo tem de característico: a transformação da vida pública na
privada (pode-se entender como quiser). A pornográfica e obscena mescla
de dinheiro público com o desejo particular. A suruba entre assuntos de
alcova e assuntos de Estado. Estou me lixando para o fato do
ex-presidente Lula ter amante, seja uma, sejam dez. Em algumas partes
do mundo, a poligamia masculina é tradição milenar. No Irã islâmico do
amiguinho de Lula, o nuclear Ahmadinejad, a poligamia é cultural (sempre masculina, se uma mulher seguir esse rumo acabará morta a pedradas, sob aplausos da turba enfurecida). Mas mesmo no Islã, o número de esposas é limitado pelo poder aquisitivo - e não vale incorporar as reservas monetárias do país na conta!
No Brasil, é assunto estritamente particular. Mas no preciso instante
em que Lula arruma um empreguinho camarada, regiamente remunerado, para a
concubina, ele sai do "particular" e vai para o lodaçal do escândalo.
Não se tem notícia de que FHC, ou qualquer outro mandatário, tenha tido
tamanho escárnio para com a coisa pública. E assim sendo, o papelão
moral que o ex-presidente protagoniza deixa de ser um assunto
"particular", para virar notícia, com todos seus desdobramentos.
No caso em questão, mais do que uma troca de favores, um ninho de
roubalheira que a cada dia nos brinda com novidades. Não é caso amoroso,
é caso de polícia. A "teúda" não se contentou em receber seus generosos
proventos da administração pública. Resolveu diversificar as
atividades, e, seguindo o modelito tão em voga nas hostes do petismo,
prestar "consultoria" para fora. Emplacou os irmãos Vieira em duas
Agências reguladores diretamente ligadas a interesses de pessoas que
buscavam favores intermediados por ela. Arrumou, através de outra
indicação sussurrada ao ouvido do "PR", uma boquinha para a filha na
ANAC. Até para o ex-marido, ela deu um jeitinho de dar uma forcinha,
arrumando um diploma fajuto para que ele pudesse conseguir um emprego na
seguradora do Banco do Brasil. Em outras palavras, ela cuidou da
família toda. Lula se declarou "esfaqueado pelas costas" com o episódio.
Esfaqueado por quem? Pela amante? Tenho minhas dúvidas. A mulher já
perdeu o emprego, a filha foi demitida, o ex foi demitido, ela está
indiciada em processo na Polícia Federal. Fico aqui imaginando o estado
de espírito de Rosemary, ao ver que seu "Coronel", ou, na expressão em
inglês, "sugar daddy", pegou um vôo para a Europa para deixar o caso
esfriar, e a deixou nas mãos "competentes" de Marcio Thomaz Bastos e
equipe. Como ficarão as contas que vencem no final do mês? O condomínio
da cobertura? Será que alguma alma caridosa vai pagar? Ou será que Lula
vai repetir seu comportamento habitual, e deixá-la arder no mármore do
inferno, declarar que foi vítima" e que "não sabia de nada"? Um
expediente perigoso, para dizer o mínimo. No lugar da Rose, eu pediria
garantias de vida à polícia, e faria um bom acordo de delação premiada
com o Ministério Público. Imaginem o que pode estar trancado a sete
chaves na cabeça da mulher?
Quanto
a Lula, ele pode inventar os subterfúgios que quiser. É impressionante a
capacidade quase inesgotável que esse cidadão possui, se se esmerar na
produção de escândalos. Quando a gente pensa que já viu tudo, que estão
esgotadas as alternativas para mais uma "cagada", lá vem ele com um
balaio cheio de dejetos para emporcalhar a sua biografia. Até hoje, o
revestimento de "teflon" que auferiu, ao longo de décadas de enganação e
oito anos de mandato nos quais o clientelismo e a demagogia foram a
tônica, resistiu a tudo. Um escândalo como o Mensalão mandaria a
popularidade de qualquer um para o fundo do poço. Lula surfou no
escândalo, pintou e bordou, e saiu com a maior cara lavada. É possível
que saia de mais esta. Mas nada é certo. O povo tende a perdoar o fato
de ter uma "teúda". Mas que ela seja "manteúda" com o dinheiro do
contribuinte, é ir um pouco longe demais. Os que trabalham com o humor
estão em polvorosa, com a mais nova safra de inspiração para suas
charges. É bem capaz de Lula resistir a denúncias de toda espécie. Mas
resistir ao humor implacável lhe será mais difícil. Agora, entre dezenas
de epítetos nada elogiosos que ele recebe da oposição, somará mais um -
o de pândego.