Hoje eu quero dar uma pausa nas críticas (merecidas) ao lulo-petismo e fazer uma análise do fato da popularidade de Lula da Silva se manter em níveis altos, apesar de todos os escândalos havidos, da corrupção, do clientelismo, da incompetência e da má administração em diversos setores do governo brasileiro.
Assisto e participo de manifestações críticas ao governo federal. Pertenço a um segmento da sociedade que procura estar sempre informado sobre política, economia, cotidiano, etc. No caso da economia o faço até por dever de profissão, pois preciso saber onde está a oportunidade de trabalho para poder sobreviver.
O governo lulo-petista se apóia em um tripé básico para se manter na crista da onda. Inflação baixa, Assistencialismo barato e Propaganda massiva de manipulação popular.Não incluí nessa base o aspecto ética e honestidade, pois é caso comprovado que esse governo e sua base de apoio não aparentam nem demonstram ter nenhuma das duas qualidades.
Vamos lá:
Inflação baixa
As pessoas mais pobres, mais humildes, embora na sua maioria saibam do que acontece, focam mais naquilo que lhes interessa para a sobrevivência imediata, exatamente como eu faço ao acompanhar os fatos econômicos. Só que a este pessoal interessa na realidade o custo de vida, a manutenção do seu emprego, do seu "bico", os “poucos, malditos, mas no bolso” que lhes garantem o pão nosso do dia a dia. Assuntos como corrupção, apagão aéreo, PAC que não anda, não interessam pois não enchem barriga.
Independente do fato notório do lulo-petismo ter se apropriado do modelo de estabilização do governo anterior, a inflação baixa é o principal ponto de apoio das massas ao governo. Se forem analisar a evolução de preços dos alimentos, constatarão que os produtos de consumo de massa subiram muito menos em comparação aos produtos ditos supérfluos no período do governo Lula. O arroz, o feijão, a farinha, o óleo de cozinha,a galinha, o ovo, que são os alimentos básicos da população subiram muito pouco e/ou tiveram seus impostos reduzidos para manter os preços. E é isso que o povão apóia. Na outra ponta, produtos industrializados, de maior valor agregado, tiveram aumentos superiores à média, fazendo com que a inflação se mantivesse numa média de 3 ou 4% ao ano a partir de 2004. É bom lembrar que a fórmula de cálculo da inflação embute um forte componente da taxa de câmbio. A retórica raivosa petista em 2002 fez com que naquele ano a inflação se acelerasse num puro movimento especulativo que levou o dólar à estratosfera e por conseqüência a taxa inflacionária. Ninguém me tira da cabeça que aquele movimento “morde-assopra” pré-eleição foi pensado e orquestrado para desestabilizar momentaneamente o Plano Real e ganhar a disputa eleitoral. Uma vez passadas as eleições, as coisas se ajeitariam novamente como se ajeitaram, já que as bases macroeconômicas estavam implantadas e solidificadas e os ventos externos sopravam favoravelmente. Ninguém seria louco de provocar inflação.
Todos sabem que o maior imposto de todos é a carestia, a inflação, que corrói indistinta e diariamente os ganhos de quem não tem como se defender dela. Para manter a inflação baixa, tanto no Plano Real como até agora, é necessário um aperto fiscal e uma política de juros altos. Até aí tudo bem. A compensação seria a redução de gastos públicos o que não aconteceu ao contrário, aumentou de forma impressionante e assustadora com a retomada lulo-petista da estatização do setor público. Esta ação inibiu investimentos privados e mesmo os investimentos públicos em infra-estrutura, o crescimento mais acelerado, a criação de empregos e retirou mais recursos via impostos da população de maior renda. Nesse caso o setor social mais atingido foi a classe média que perdeu emprego, renda e passou a ser cada vez mais dependente de crédito bancário para tentar manter seu “status-quo”. Hoje a taxa cambial lá embaixo, ajuda e muito a manter a inflação nos patamares em que está.
Assistencialismo barato
Para compensar a baixa geração de empregos e o baixo crescimento, que mantém a taxa de desemprego há 10 anos no patamar de 10% (equivalente hoje a quase 10 milhões de pessoas, a maioria da classe média), o governo aproveitou a idéia do Bolsa-Escola de Cristóvam Buarque, implantado no governo FHC e de forma pragmática e inteligente o transformou no Bolsa-Família que proporciona uma renda adicional ao segmento mais miserável da sociedade sem a contrapartida do trabalho. Esse dinheiro extra está proporcionando a oportunidade dessas pessoas de adquirirem produtos de consumo que antes só viam nas vitrines e gôndolas ou nas telas de TV e que eram exclusivos dos segmentos da sociedade de maior poder aquisitivo.Mais um gol a favor da popularidade do lulo-petismo. Alguém poderia me contestar dizendo que o Bolsa-Família é para as necessidades básicas do cidadão que não tem renda. Pura falácia.Na prática é diferente. Por mais miserável que seja o cidadão, ele sempre auferiu uma renda que lhe garantisse o básico.O IBGE demonstra isso quando aponta que os 40% mais pobres têm renda média de 240 reais mensais. Com um terço deste valor, pode-se adquirir cestas básicas que garantem a alimentação decente de uma família de 4 pessoas por um mês. O Bolsa-Família agrega uma renda extra que proporciona ao cidadão comprar aquele tênis de imitação, aquela roupinha mais incrementada, o celular pré-pago usado por 20 reais, o tocador portátil de CD´s (que substituiu o famoso radinho de pilha), o “danoninho”, símbolos do consumismo que antes só eram acessíveis às classes mais abastadas. Nada mais justo que todos possam ter acesso a este consumo mas sem a contrapartida do trabalho que dá um valor moral à aquisição, fica difícil defender a iniciativa. E isso custa pouco ao governo (12,5 bilhões de reais por ano – 3% da arrecadação de tributos federais), face ao resultado em termos de aprovação de pelo menos 20 milhões de cidadãos.
Agregado a isto, o governo lulo-petista facilitou o crédito através do sistema consignado, facilitando aos mais pobres a aquisição de bens duráveis como TV´s, fogões, geladeiras em suadas prestações. O segmento mais pobre com emprego fixo, na faixa de 1 a 2 salários mínimos (e aí se incluem os empregados domésticos com carteira assinada pelas patroas de classe média e aposentados e pensionistas do INSS) se aproveitou dessa facilidade. Os juros da ordem de 3%, 4% mensais nessa modalidade, são compensados pelos agentes financeiros com os juros extorsivos de 8 a 11% mensais oferecidos às classes mais abastadas. Assim, cria-se uma falsa sensação de bem-estar social nos setores mais desfavorecidos, o que justifica a sua aprovação ao governo, mas não cria perspectivas de evolução da renda deste segmento de população a médio e longo prazo.
Propaganda massiva de manipulação popular
Uma vez implantadas as ações anteriores, a propaganda de manipulação habilmente montada por Duda Mendonça, consolidou a sensação de bem-estar com os motes “nunca antes neste país”, “herança maldita”, “opção pelos pobres” e tantos outros que vimos. Além disso, para prevenir a reação (esperada) da classe média que foi a mais prejudicada pelo sistema, foi ativada a milícia desqualificadora de opiniões contrárias, taxando sistematicamente os críticos de golpistas, de anti-democráticos, fossem eles de que classe social ou política ou econômica fossem. Omissão das falhas e exacerbação de realizações por menores que sejam é o ponto central da propaganda de massas. Em maior ou menor escala, todos os políticos sempre usaram desse artifício mas o lulo-petismo levou e leva essa ação ao extremo.
O lulo-petismo mantém um sistema eficiente de informação e contra-informação consolidado.Existe por trás das cortinas do Planalto e dos Ministérios um grupo de inteligência plenamente dedicado a esta função. E não nos enganemos, é um grupo atento, muito bem aparelhado e eficaz.
Neste sistema inclui-se o culto à personalidade, metodologia de manipulação que mascara as mazelas e realidades. Lula é apresentado à população mais pobre e à menos informada como sendo o “pobretão trabalhador que chegou lá” mascarando a realidade óbvia que ele é um cidadão que parou de trabalhar e produzir alguma riqueza há 30 anos, nunca exerceu um cargo público executivo, é uma pessoa que fala mais do que faz, utiliza-se do exagero verbal, das meias-verdades, da desqualificação dos desafetos, do linguajar propositalmente simplório. Quando alguém ressalta estes defeitos graves de sua personalidade, logo é taxado de preconceituoso pelo sistema de contra-informação. E ele usa isto de forma pragmática e com falsa modéstia. Diz que aprendeu muito com o exercício da presidência, não sabia que a burocracia do governo era tão complicada a ponto de retardar seus grandiosos planos (nesse ponto, de forma sub-liminar, culpa seus antecessores e exime-se de suas próprias fraquezas), mascarando com isso a sua incompetência e a de seus auxiliares.
Concluindo
É esse o tripé que sustenta a popularidade de Lula, que o incentiva e ao grupo que o rodeia a pensar numa continuidade de poder. O avanço da economia mundial deve persistir por mais uns 4 ou 5 anos, em função do crescimento chinês. Enquanto os chineses necessitarem de alimentos e matérias-primas para garantir seu crescimento, o mercado mundial globalizado manterá os preços das commodities em alta e o Brasil auferirá os dividendos em forma de exportação de minerais e alimentos básicos, garantindo um crescimento mínimo suficiente para manter o “lumpen” aquietado, com inflação baixa.
É exatamente este ponto que me assusta e ao mesmo tempo me incentiva à contraposição desse modelo.
Cientes dessa situação e de sua incompetência em propiciar um crescimento maior que implicaria em perda de poder a médio prazo pois a incompetência de gestão viria à tona de forma contundente e a inflação voltaria pela falta de oferta, os lulo-petistas e seus companheiros se acomodam pois o que está aí é suficiente para garantir o seu futuro. Falta somente calar os críticos independentes pois a oposição política foi neutralizada seja através dos mensalões, seja através da distribuição de cargos públicos, seja pela apropriação pelo lulo-petismo das bandeiras principais que poderiam motivar a maioria dos eleitores a rejeitá-lo. Aos cidadãos da classe média que hoje se indignam e criticam, seria dada a alternativa de se aliar ao sistema através de cargos públicos ou descer ao nível dos “aquietados” pelas esmolas governamentais. Aos recalcitrantes, o pior.
O modelo chinês com nuances castristas é certamente um marco de referência dos lulo-petistas e eles tentarão seguir um caminho similar no seu projeto de poder. Um regime forte, estatizado, majoritário, centralizador, com um viés liberal e capitalista em ilhas isoladas, e sem o principal elemento da democracia. A liberdade ampla e irrestrita de todos os cidadãos.
Liberdade de expressão, de iniciativa, de escolha, inerente à democracia capitalista, tão duramente conquistada pela sociedade após a ditadura militar.
Alguém duvida que eles pensam e agem assim? Se duvidam, vejam os exemplos das últimas semanas face aos últimos acontecimentos. As expressões usadas nos discursos de Lula, as atitudes arrogantes e debochadas de seus auxiliares mais próximos, a extradição dos boxeadores cubanos sem dó nem piedade. Sinais claros de arrogância e desfaçatez, dignos dos piores regimes ditatoriais da história.
Qual o caminho para evitar essa escalada? É assunto para um próximo post porque este já ficou muito longo.