...Estamos em 2009. Na data em que completa meio século de carreira política, aos 78 anos, o velho coronel comemora sem o menor sinal de euforia.Por certo, pesam-lhe na memóra as palavras de seu falecido amigo Roberto Campos, tão entreguista que lhe pespegaram o apelido de Bob Fields, Ministro do Planejamento de Castello Branco, primeiro general de plantão do governo militar:
"Certas vitórias parecem o prenúncio de uma grande derrota.É um amanhecer que não canta"
Deputado federal, governador do Maranhão, presidente da República, cinco vezes senador.E, no início desse ano pré-eleitoral,eis que em 2010 se dariam eleições presidenciais, ele chegava pela terceira vez à presidência do Senado. Mas tinha a sensação de que tudo aquilo que havia conquistado em meio século de vida pública podia estar por um segundo. Não foi de bom agouro a cena que se seguiu a seu discurso de pouco mais de cinco minutos, ao apresentar sua candidatura à presidência da Casa, naquela manhã de 2 de fevereiro, dia de festa no mar. Em sua fala, ele citou por sinal Nossa Senhora dos Navegantes, depois de se comparar a Rui Barbosa pela longevidade na vida pública e de proclamar que não houve escândalos em suas outras passagens pelo cargo. Esperava uma sessão rápida, mas, para sua inquietação, vários pares passaram a revezar-se para defender o outro candidato à presidência do Senado, o petista acreano Tião Viana e aproveitaram para ferí-lo. assim, quando abriram a inscrição para os candidatos, ele pediu para falar. Queria dar a última palavra.
Marcado pela fama de evitar confrontos em plenário, fugiu a seu estilo e fez um pronunciamento duro. Um improviso daqueles que a gente leva meses para preparar. Deixou claro que não gostou de ver Tião Viana posar de arauto da modernidade e higienizador da podridão que paira nos ares do parlamento brasileiro.
Depois de lembrar a coincidência de 50 anos antes, quando no dia 2 de fevereiro de 1959 assumia o primeiro mandato no Congresso como deputado federal, atacou:
"Não concordo quando se fala em imoralidade do Senado.O Senado é os que aqui estão.Reconheço que, ao longo da nossa vida, muitos se tornaram menos merecedores da admiração do país, mas não a instituição."
Então, pronunciou as palavras seguintes, que trazem os sinais trocados,pois tudo quanto você vai ler é tudo quanto o velho senador não é:
"Durante minha vida passei aqui nesta Casa 50 anos. Muitas comissões, vamos dizer assim,muitos escândalos existiram envolvendo parlamentares, mas nunca o nome do parlamentar José Sarney constou de qualquer desses escândalos ao longo de toda a vida do Senado." Disse mais:
"A palavra ética, para mim, que nunca fui de alardear nada, é um estado de espírito.Não é uma palavra para eu usar como demagogia ou uma palavra para eu usar num simples debate."
A filha Roseana Sarney, senadora pelo Maranhão, do mesmo PMDB do pai, caminhava pelo plenário, muito nervosa. Estava em lágrimas quando o pai encerrou sua fala. Os oitenta pares o aplaudiram protocolarmente, mas um deles, de um salto pôs-se de pé e bateu palmas efusivas, acompanhadas do revoar de suas melenas.Tratava-se de Wellington Salgado, do PMDB mineiro, conhecido como Pedro de Lara ou Sansão...
(meu comentário): Sarney foi eleito presidente do Senado mais duas vezes e graças a ele, mais uma penca de escândalos foi acobertada, CPI´s foram enterradas e as sujeiras do Planalto varridas para baixo do tapete onde permanecem à espera um movimento popular organizado que tenha a coragem de forçar uma investigação séria e punição exemplar aos responsáveis. Vale a pena ler o livro todo.
Um comentário:
É um bom livro, bem escrito e esclarecedor, tanto que a familia Sarney, que é retratada nele (e não apenas o patriarca, como pode dar a impressão) não conseguiu barrar sua publicação.
E é um livro que guarda muita similaridade (inclusive na Capa) com outro, sobre Antonio Carlos Magalhães, que eu também li e tenho em casa, mas cujo autor não lembro.
São histórias beeeem parecidas, que revelam uma face sordida do Brasil.
Postar um comentário