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domingo, dezembro 02, 2012

O Bebum da Rosemary

Este texto eu copiei do blog do Roland Cooke. Impecável, vale a pena ler.

"Deite, que hoje vou lhe usar"
Coronel Jesuíno (José Wilker) para Sinhazinha, na minissérie "Gabriela", da TV Globo



Eu costumo acordar cedo. Pela seis da manhã, eu já estou fora da cama. A meia-idade tem dessas coisas, a gente tem sono só na hora errada. Aos sábados não é diferente. E hoje segui o costume. Levanto às seis, banheiro para as atividades inerentes ao local, vou à cozinha, ponho um café-com-leite no microondas, espero, pego a xícara e rumo ao escritório, onde mora a minha janela para o mundo, um notebook ligado numa conexão sonolenta com a internet. Ligo, espero carregar, clico no ícone da Veja On-Line, para ver as novidades. Nada de muito interessante, Israel vai metendo os pés pelas mãos na Cisjordânia (preciso escrever sobre isso mais tarde, há dias escrevi um post defendendo Israel do jogo sujo da mídia, mas essa de permitir a expansão dos assentamentos em represália à decisão da ONU de reconhecer a Palestina com Estado Observador é, para dizer o mínimo, um tremendo tiro no pé, parece até coisa de petista!), mais uns rolos da tal Rosemary, enfim, mais do mesmo. Vou à coluna do Reinaldo Azevedo, sempre um prazer de ler. Hummm... Hein?  Como é?  Deparo-me com o seguinte texto:

Jornal decide contar ao leitor o que os jornalistas e o governo sabiam há muito: Lula e Rosemary, no centro do novo escândalo, eram amantes desde 1993


Um homem público ter uma amante é ou não assunto relevante? Nos EUA, basta para liquidar uma carreira política, como estamos cansados de saber. Foi um caso extraconjugal que derrubou o todo-poderoso da CIA e quase herói nacional David Petraeus.
Desde quando estourou o mais recente escândalo da República, todos os jornalistas que cobrem política e toda Brasília sabiam que Rosemary Nóvoa Noronha tinha sido — se ainda é, não sei — amante de Lula. Assim define a palavra o Dicionário Houaiss: “Amante é a pessoa que tem com outra relações sexuais mais ou menos estáveis, mas não formalizadas pelo casamento; amásio, amásia”.
Embora a relação fosse conhecida, a imprensa brasileira se manteve longe do caso. Quando, no entanto, fica evidente que a pessoa em questão se imiscui em assuntos da República em razão dessa proximidade e está envolvida com a nomeação de um diretor de uma agência reguladora apontado pela PF como chefe de quadrilha, aí o assunto deixa de ser “pessoal” para se tornar uma questão de interesse público.
O caso, com todos os seus lances patéticos e sórdidos, evidencia a gigantesca dificuldade que Lula sempre teve e tem de distinguir as questões pessoais das de Estado. Como se considera uma espécie de demiurgo, de ungido, de super-homem, não reconhece como legítimos os limites da ética, do decoro e das leis. (...) 
Ainda segundo o texto do Reinaldo, o jornal responsável pela notícia é a Folha de São Paulo que, ao questionar o porta-voz do Instituto Lula, José Chrispiniano, ouviu dele a afirmação de que "o ex-presidente Lula não faria comentários sobre assuntos particulares".
Fiquei ali uns cinco minutos, olhando aquilo, meu café esquecido, esfriando no canto da escrivaninha. A notícia era inacreditável. Quer dizer, se analisado à luz fria dos fatos, fazia todo sentido. A nomeação da moça, seu poder quase rasputiniano, seu trânsito com o "PR" (Presidente), sua preocupação com plásticas e coisas afins, as viagens sem justificativa aparente, seu poder junto ao chefe e sua sede de aproveitar ao máximo esse poder. Até mesmo a repentina viagem de Lula à Europa, logo que eclodiu o escândalo do tráfico de influência da "Rose". O prudente distanciamento de Dilma, acoplada à intensa movimentação nos bastidores para evitar, a qualquer custo, que a dita-cuja seja interrogada por parlamentares da oposição. Tudo se encaixava, tudo começava a fazer sentido. Mas... até NESSE tipo de escândalo, o Imperador de Garanhuns se mete? Tem foto rodando a internet, com o abraço carinhoso dos três protagonistas desse triângulo: Lula, Rose e Marisa Letícia! Cara de pau, o Coronel Jesuíno do Planalto, não?
Ok, ok.... vamos com cautela. Vai que o Reinaldo perdeu o juízo... Para buscar a contrapartida, vou ao blog sujinho mais popular da esgotosfera petista: o Brasil 247. Ela certamente deve estar esbravejando por conta de tal injúria contra seu ídolo máximo. Hummm... não. O blog a serviço do lulopetismo não desmente nada. Pelo tom das manchetes espalhafatosas que estampa na abertura, pelo contrário: praticamente confirma a notícia da Folha, com a ressalva podre de que "FHC fez o mesmo, e não deu nem escândalo, pois foi tudo abafado pelo "PIG" (a maneira  estranha pela qual a imprensa a serviço do governo se refere a qualquer tipo de imprensa que não lamba as botas do petismo). 
O mais impressionante é que, segundo a Folha, esse fato já era rumor corriqueiro em Brasília há mais de uma década - e nunca ganhou repercussão! E isso num país onde até a sexualidade de figurinhas carimbadas da TV vira hit da internet!

Muito bem.... Antes de fazer qualquer análise do caso, e preciso apurar sua veracidade. Pelo que se vê na internet, é "pedra 90", ou seja, verdadeira. Isso posto, é preciso separar as coisas. A vida sexual de Luiz Inácio Lula da Silva, é da minha conta? Óbvio que não, assim como a minha não é da conta de ninguém. Afinal de contas, ter amantes é corriqueiro em nossa sociedade. Há centenas de anedotas a respeito, e poucas condenam a atividade "por fora" do casamento, desde que executada pelo marido. Chamar um homem de "galinha" no Brasil, sequer chega a ser um xingamento, mas no máximo uma leve repreensão, muitas vezes eivada de inveja. Claro que no caso da mulher infiel, a coisa muda de figura. Chamar de "galinha" é ofensa mortal.  É uma grande injustiça, fruto do machismo que ainda permeia a nossa sociedade. Mas eu é que não me meto a querer corrigir o mundo na sua visão machista da traição, não. Quem tem chifres que os ajeite como melhor lhe aprouver. E não será a primeira vez em que um chefe de Estado dá suas puladas de cerca, nem será a última. Muito antes de Dom Pedro I conceder o título de Marquesa à bela Domitilia, a corte era célebre por seus casos extraconjugais. Boa parte dos presidentes brasileiros tinham lá suas "peguetes" (para usar um termo mais atual). Na cultura latina, isso nem era considerado pecado grave. E segue sendo tolerado com bom humor. Estamos muito mais para os italianos que morrem de inveja de Silvio Berlusconi e suas festas "bunga-bunga", do que para o falso puritanismo americano que por pouco não causou o impeachment de Bill Clinton por suas aventuras sexuais com uma estagiária da Casa Branca. O caso do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, um voraz reprodutor extraconjugal, nunca causou espécie entre seus admiradores, mesmo ele tendo sido padre durante o período em que "pegava geral". Para a idiotia latino-americana, a promiscuidade (masculina, é certo) é quase um sinônimo de "macheza", desejável, portanto. Lula, ao ter uma amante, provavelmente não teria grande desgaste em sua imagem, tradicionalmente revestida de teflon contra escândalos de toda ordem. O fanatismo pró-Lula é tão arraigado, que esse seria considerado um "mal menor" e que, de mais a mais, nem é crime coisa nenhuma. No caso dele seria apenas mais uma faceta do folclore lulista, assim como seu hábito de tomar uns goles além da conta da "mardita pinga", e de abominar certos hábitos típicos de pessoas ditas civilizadas, como a leitura. De fato, os comentários dos leitores do "247" estavam, de modo geral, todos alinhados com esse pensamento: Lula é "o cara", além de "ter salvo o Brasil", é "pegador". Sabem como é, aos idiotas tudo é permitido.
Sabe-se que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve um caso extraconjugal, com uma jornalista da Globo. Ela teve um filho, que foi reconhecido por FHC como filho da união dos dois. Anos depois, provou-se que o filho não era de FHC, o que não muda absolutamente nada no fato de que houve um caso fora do casamento. Os blogs a serviço do lulopetismo estão explorando esse fato à exaustão, tentando traçar um paralelo entre os dois casos, de modo a "aliviar a barra" de Lula. À primeira vista, seria isso mesmo: dois presidentes, dois casos, nada de novo no front. Cada um que faça seu julgamento pessoal sobre esse tipo de comportamento. Creio que poucos farão uma censura rigorosa, talvez lembrando daquela frase de Jesus Cristo: "Atire a primeira pedra, quem nunca errou..."  Na mente nos lulistas, são casos análogos, e se um foi esquecido pela grande imprensa, o outro merece o mesmo destino.

Eu discordo disso - e mostro por quê.

Ter uma amante é "assunto particular", sem dúvida. Mas espetar a conta da manutenção da amante na viúva (leia-se: erário, o seu, o meu, o nosso dinheiro), já extrapola a seara do "particular" para chafurdar naquilo que o petismo tem de característico: a transformação da vida pública na privada (pode-se entender como quiser). A pornográfica e obscena mescla de dinheiro público com o desejo particular. A suruba entre assuntos de alcova e assuntos de Estado. Estou me lixando para o fato do ex-presidente Lula ter amante, seja uma, sejam dez.  Em algumas partes do mundo, a poligamia masculina é tradição milenar. No Irã islâmico do amiguinho de Lula, o nuclear Ahmadinejad, a poligamia é cultural (sempre masculina, se uma mulher seguir esse rumo acabará morta a pedradas, sob aplausos da turba enfurecida). Mas mesmo no Islã, o número de esposas é limitado pelo poder aquisitivo - e não vale incorporar as reservas monetárias do país na conta! No Brasil, é assunto estritamente particular. Mas no preciso instante em que Lula arruma um empreguinho camarada, regiamente remunerado, para a concubina, ele sai do "particular" e vai para o lodaçal do escândalo. Não se tem notícia de que FHC, ou qualquer outro mandatário, tenha tido tamanho escárnio para com a coisa pública. E assim sendo, o papelão moral que o ex-presidente protagoniza deixa de ser um assunto "particular", para virar notícia, com todos seus desdobramentos. No caso em questão, mais do que uma troca de favores, um ninho de roubalheira que a cada dia nos brinda com novidades. Não é caso amoroso, é caso de polícia. A "teúda" não se contentou em receber seus generosos proventos da administração pública. Resolveu diversificar as atividades, e, seguindo o modelito tão em voga nas hostes do petismo, prestar "consultoria" para fora. Emplacou os irmãos Vieira em duas Agências reguladores diretamente ligadas a interesses de pessoas que buscavam favores intermediados por ela. Arrumou, através de outra indicação sussurrada ao ouvido do "PR", uma boquinha para a filha na ANAC. Até para o ex-marido, ela deu um jeitinho de dar uma forcinha, arrumando um diploma fajuto para que ele pudesse conseguir um emprego na seguradora do Banco do Brasil. Em outras palavras, ela cuidou da família toda. Lula se declarou "esfaqueado pelas costas" com o episódio. Esfaqueado por quem? Pela amante? Tenho minhas dúvidas. A mulher já perdeu o emprego, a filha foi demitida, o ex foi demitido, ela está indiciada em processo na Polícia Federal. Fico aqui imaginando o estado de espírito de Rosemary, ao ver que seu "Coronel", ou, na expressão em inglês, "sugar daddy", pegou um vôo para a Europa para deixar o caso esfriar, e a deixou nas mãos "competentes" de Marcio Thomaz Bastos e equipe. Como ficarão as contas que vencem no final do mês? O condomínio da cobertura? Será que alguma alma caridosa vai pagar? Ou será que Lula vai repetir seu comportamento habitual, e deixá-la arder no mármore do inferno, declarar que foi vítima" e que "não sabia de nada"? Um expediente perigoso, para dizer o mínimo. No lugar da Rose, eu pediria garantias de vida à polícia, e faria um bom acordo de delação premiada com o Ministério Público. Imaginem o que pode estar trancado a sete chaves na cabeça da mulher?

Quanto a Lula, ele pode inventar os subterfúgios que quiser. É impressionante a capacidade quase inesgotável que esse cidadão possui, se se esmerar na produção de escândalos. Quando a gente pensa que já viu tudo, que estão esgotadas as alternativas para mais uma "cagada", lá vem ele com um balaio cheio de dejetos para emporcalhar a sua biografia. Até hoje, o revestimento de "teflon" que auferiu, ao longo de décadas de enganação e oito anos de mandato nos quais o clientelismo e a demagogia foram a tônica, resistiu a tudo. Um escândalo como o Mensalão mandaria a popularidade de qualquer um para o fundo do poço. Lula surfou no escândalo, pintou e bordou, e saiu com a maior cara lavada. É possível que saia de mais esta. Mas nada é certo. O povo tende a perdoar o fato de ter uma "teúda". Mas que ela seja "manteúda" com o dinheiro do contribuinte, é ir um pouco longe demais. Os que trabalham com o humor estão em polvorosa, com a mais nova safra de inspiração para suas charges. É bem capaz de Lula resistir a denúncias de toda espécie. Mas resistir ao humor implacável lhe será mais difícil. Agora, entre dezenas de epítetos nada elogiosos que ele recebe da oposição, somará mais um - o de pândego.