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sexta-feira, setembro 16, 2005

Divirta-se

Saiu uma entrevista hipotética de Lula na Zero Hora, com respostas tiradas de artigos publicados por ele no jornal, entre 5 de setembro de 1999 e 31 de março de 2002. De certa forma, é sacanagem: as perguntas foram feitas depois das respostas. Mas o jornal não enganou ninguém e o resultado é engraçadíssimo. E, como não dá para perder, a cópia está logo abaixo.

- Um presidente da República pode não saber do que ocorre nos gabinetes do Palácio do Planalto, principalmente em relação a acusações contra seus subordinados mais próximos?

Lula: "Não é possível que o presidente não soubesse de nada, que ele não tivesse idéia do que o seu homem de confiança fazia na sala ao lado da sua no Palácio do Planalto. Afinal, um presidente da República não pode ser tão desinformado. Aliás, o presidente deveria ter se dirigido à opinião pública para, no mínimo, prestar esclarecimentos sobre esses escândalos." (Em 30/07/2000, referindo-se ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ao escândalo da violação do painel do Senado.)

-Por que as denúncias contra o PT apareceram agora?

Lula: No Brasil, a opinião pública só fica sabendo das falcatruas que ocorrem em determinados governos quando há brigas envolvendo o centro do poder. Somente a partir desse tipo de denúncias é que as oposições, a imprensa e a própria sociedade têm meios de aferir a gravidade desses casos de corrupção. (Em 4/03/2001.)

-A investigação das denúncias por órgãos ligados ao Executivo é suficiente?

Lula: Como é que alguém subordinado ao presidente (referindo-se à criação da Corregedoria-Geral da União) vai investigar as mazelas que a imprensa diz que são de responsabilidade do próprio governo? (Em 8/04/2001.)

-No início da crise, no lugar de admitir os erros, o Planalto se concentrou em buscar bodes expiatórios na oposição. A demora não inflou a crise?

Lula: O presidente da República faria muito melhor se deixasse de lado a busca de bodes expiatórios e o costume de insultar as forças de oposição e passasse a estudar propostas (...) voltadas para a busca de solução real para as dificuldades crescentes que cercam nosso país. Busca que,evidentemente, exige mudanças radicais no modelo econômico de recessão e juros extorsivos que é hoje imposto aos brasileiros. (Em 19/09/1999,referindo-se a Fernando Henrique.)

-Parte da defesa do PT está baseada no argumento de que a corrupção não foi inventada pelo atual governo. A estratégia de envolver o PSDB tem fundamento?

Lula: Aqui no Brasil, essas evidências de que as políticas neoliberais carregam um padrão de corrupção eleitoral não são novidade. O presidente FH empurrou para baixo do tapete todas as denúncias de compra de votos pelo seu governo para aprovação da reeleição. A cada novo escândalo denunciado,realiza uma nova operação abafa. Mesmo quando o seu braço direito foi denunciado. (Em 24/09/2000, referindo-se a Eduardo Jorge.)

-O PT está sabendo lidar com a postura da oposição diante da crise?

Lula: Forjado em uma longa trajetória de atuação oposicionista, o PT compreende mais do que ninguém a importância fundamental da cobrança, da fiscalização e da crítica exercida pela oposição em qualquer nível de governo. Sem isso, não existe vida democrática. (Em 4/11/2001.)

-Mas o partido foi acusado de tentar barrar as investigações, lutando contra a criação de CPIs.

Lula: O PT, todos sabem, tem lutado de modo firme contra a corrupção, em qualquer nível, e pela absoluta e imparcial apuração dos fatos. Tem defendido a instalação de CPIs todas as vezes em que as denúncias de desmandos justificam tal medida. É por temer o futuro que se avizinha que os políticos conservadores vão tentar fazer de tudo para lançar o PT na vala comum da corrupção brasileira. Mas nós temos o antídoto. O PT apura e pune. E os outros? (Em 11/11/2001.)

-Não se corre o risco de a sucessão de denúncias banalizar a corrupção e alimentar um clima de que todos os políticos são iguais?

Lula: O corrupto, além de roubar dinheiro público que deveria estar sendo utilizado em obras e serviços para melhorar a vida da grande maioria do povo brasileiro, destina parte do arrecadado para fazer corrupção eleitoral. A sociedade não pode encarar mais esse escândalo como coisa banal,corriqueira, pensando que "isso não tem jeito e sempre foi assim". Tem jeito, sim. Há políticos sérios e comprometidos com a ética e com o bem público. O PT não faz milagres nem é formado por santos. (Em 16/07/2000.)

-A população só se desilude ou consegue aprender algo com a crise?

Lula: Felizmente, o povo brasileiro está ganhando consciência cada vez maior de que é necessário combater radicalmente a corrupção no país. O impeachment de Collor foi uma vitória histórica e educativa. O fortalecimento da democracia faz crescer a exigência de maior transparência e participação do povo na coisa pública. Quanto mais eu vejo denúncias sérias de corrupção,mais eu me orgulho do papel que o Partido dos Trabalhadores tem desempenhado nessa luta. (Em 19/03/2000.)

-Que malefícios a avalancha de denúncias traz à população?

Lula: Muita gente, ao ver tudo isso sendo revelado pela imprensa, fica decepcionada com o Congresso e com a política de modo geral. É exatamente isso o que os muitos conservadores e corruptos querem que o povo pense: que todos os políticos e todos os partidos são iguais. Mas isso não é verdade. (Em 29/04/2001.)

-O que o Brasil perde quando um governo como o do PT, que sempre defendeu uma nova relação entre o público e o privado, comete deslizes éticos?

Lula: O povo até compreende quando um governo deixa de fazer certas obras ou comete alguns erros, porque errar é humano. Mas a situação no Brasil já passou dos limites. Ninguém pode aceitar a continuidade dessa relação promíscua entre a coisa pública e os interesses privados, com o Estado sendo usado para beneficiar uma minoria de privilegiados da sociedade. (Em20/08/2000.)

-Com a crise, o PT deixa de ser um modelo de moralidade?

Lula: Nós, do PT, temos políticas concretas de combate à corrupção. Em praticamente todos os municípios e Estados em que o nosso partido chega ao governo a arrecadação aumenta e os cofres públicos passam a ter recursos suficientes para investimentos sociais. E isso acontece não apenas porque termina a roubalheira, o clientelismo, o leilão de cargos e postos de direção. É porque o partido tem uma postura ética sólida e um programa de modernização administrativa. (Em 22/12/2000.)

-O PT não traiu as esperanças do eleitor que desejava mudanças?

Lula: À esquerda e a todas as forças democrático-populares do Brasil não lhes é dado o direito de vencer as eleições, chegar ao poder e frustrar as esperanças do nosso povo. Partidos e políticos têm se sucedido nos governos,fazendo promessas e enganando a grande maioria da população. Isso pode e deve mudar. (Em 16/12/2001.)

- O PT teve de abrir mão de suas origens e compromissos para chegar ao Planalto?

Lula: É por isso que estão inventando essa história de PT cor-de-rosa, PTlight e outras bobagens. Querem fazer crer que a razão principal da nossa vitória se deveria a uma postura "nova" do PT, que estaria abandonando os seus princípios, os seus objetivos, a sua firmeza - e por isso estaria sendo aceito por grande parte do eleitorado. (Em 3/11/2000.)

- O projeto de reeleição do PT fez o partido admitir o comportamento de que poderia valer tudo para permanecer no poder?

Lula: A despeito do que pregaram os formadores de opinião "chapas brancas",está claro que no Brasil atual a reeleição não combina com aspirações republicanas. O fim da reeleição trará de volta à política fatores preciosos: disputas democráticas e mais equânimes, favorecendo a renovação e o aparecimento de novas lideranças. (Em 3/12/2000.)

-Onde estaria a solução?

Lula: A reforma política é o caminho para a superação dessas mazelas e de outras, igualmente vexatórias, como as recentes denúncias de caixa 2 nas campanhas presidenciais. (Em 3/12/2000, referindo-se à campanha de FernandoHenrique.)

-Só a reforma política resolve?

Lula: Hoje, o problema atingiu um patamar tão grave que nós teremos de fazer um verdadeiro mutirão para enfrentá-lo. Um mutirão que envolva a conscientização da sociedade - os eleitores devem exigir cada vez mais as credenciais éticas de seus candidatos - e que mobilize muita competência investigativa, orientada para o alvo certo: a lavagem de dinheiro, os laços financeiros internacionais, as máscaras legais, o atacado do tráfico de armas e drogas, a infiltração nas instituições públicas dos operadores políticos dessa rede criminosa. (Em 2/09/2001.)

-Que experiências municipais do PT poderiam ser aproveitadas por um governo federal do PT como forma de diminuir o espaço para corrupção?

Lula: Onde o Partido dos Trabalhadores governa, nós temos implantado o Orçamento Participativo. O povo se reúne e decide como aplicar o dinheiro público. E exerce um controle cada vez maior sobre o governo. Esse é, sem dúvida, um caminho promissor para combater radicalmente a corrupção que está degradando o nosso país. Um caminho eficaz para tapar os buracos onde está vazando o dinheiro público. (Em 20/08/2000.)

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